Ensaio Sobre a Cegueira definitivamente NÃO decepciona!
Dirigido por Fernando Meireles e baseado na grandiosa obra de José Saramago, o filme foi elaborado com extrema fidelidade ao livro, tanto no que diz respeito à construção dos cenários, quanto no perfil psicológico das personagens.
Meireles aceitou o desafio de filmar uma história, cujo próprio Saramago não queria vender os direitos autorais do livro, por considerar que o cinema destrói a imaginação. No entanto a qualidade do trabalho de Meireles foi perfeita, e desbanca muitas produções nacionais e internacionais.
Ensaio sobre a Cegueira pode ser incluído na categoria Filme de Arte. Com algumas cenas gravadas em São Paulo - parte no minhocão - as filmagens foram extremamente bem feitas, principalmente com relação à fotografia.
A escalação dos atores também não deixa a desejar: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Danny Glover, Gael García Bernal, entre outros, formaram uma time e tanto.
Abrindo o 61º Festival de Cannes, o filme foi aplaudido durante 5 minutos!
Sobre o livro
A história do livro se baseia na epidemia de uma cegueira totalmente incomum: uma cegueira “branca”, que se alastra rapidamente por toda a população, criando, dessa forma, situações absurdas e horrorosas que modificam completamente o cotidiano dessa cidade fictícia.
Para saber mais, leia o resumo do livro aqui.
Em suma, o objetivo do autor com relação a essa história, é mostrar, de maneira bem clara, como é e como funciona o comportamento das pessoas em nossa sociedade moderna. Fechamos os olhos para tudo!
A realidade muitas vezes, dói em nossos olhos.
Saramago mostra também, de que forma os seres humanos reagem quando estão sob pressão, ou quando estão diante de determinadas situações conflituosas e/ou vulneráveis, como é o caso da cegueira.
Nesse sentido, a história do livro é uma grande metáfora. Tudo acontece no plano simbólico e figurado, como a própria cegueira. Cegueira essa que representa a alienação das pessoas, que não enxergam além do concreto, do banal, das regras estabelecidas. Acabam assim perdendo a sensibilidade e o poder do questionamento.
É curioso, como Saramago expõe o perfil psicológico das diferentes personagens. As pessoas praticamente são despidas, revelando sua alma nua e crua.
Rodeado de mistérios, o livro gera reflexões e questionamentos, como por exemplo: por que somente a “mulher do médico” não ficou cega?
Jogados a própria sorte em uma prova de resistência e sobrevivência, as “máscaras” dos indivíduos vão caindo durante esse período de cegueira e confinamento. Um comportamento bem animalesco, então, toma conta do lugar. No desenrolar da história, ocorrem casos de estupro, assassinatos, brigas por dominação, sobrevivência e outros conflitos.
É uma história que demonstra bem às características subjetivas do comportamento das pessoas, como a maldade, a violência, o egoísmo, a solidariedade, que são encontrados em nosso cotidiano, mas que nem sempre são revelados, a não ser na ocorrência de uma crise de grande pressão como essa.
É interessante notar as descrições minuciosas que o autor faz para explicar ou descrever uma cena. É como se ele estivesse cego também, e descrevesse o ambiente utilizando a percepção de cores, sons, cheiros, ou seja, utilizando a sinestesia.
Já no filme, o diretor se utiliza de sons muito límpidos e puros, imagens totalmente brancas ou muito escuras, para aguçar a imaginação e criar o efeito do uso de outros sentidos que não a visão. Tenta, com isso, mostrar como os cegos percebem o mundo.
Não perca a super produção “Ensaio Sobre a Cegueira”!
curiosidade: A banda mineira Uakti, foi responsável pela trilha sonora do filme.
3 comentários:
Su,
Como Gael"I just called to say I love you!" hahahahha
Maravilhosa crítica!
Bjos
Estou louca para ver o filme!! Amei seu texto!
Beijos
Eu já estava muito interessada em ver o filme e ler o livro, aliás, comecei a lê-lo faz pouco tempo, mas com esse texto me interessei ainda mais pelo o que está por vir!
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